Luciano Albo fala sobre TNT e rock gaúcho

O Homo sapiens escuta, tem a honra de iniciar suas atividades às vésperas de um feriado nacional: o 20 de Setembro. E para brindarmos, começamos entrevistando Luciano Albo ( @lucianoalbo ) , baixista, musico, produtor musical e integrante das bandas: Tenente cascavel, Sinuca de Bico e Gustavo Telles & Os Escolhidos.

Nesse bate papo, Albo fala um pouco sobre a sua vida e visões. Confere ai na íntegra!

Homo sapiens escuta: Com quantos anos começou a dar as tuas primeiras arranhadas na música, e de que maneira isso aconteceu?

Luciano Albo: Começei a tocar violão com 14. As primeiras dicas/acordes vieram de colegas do colégio e vizinhos que já tocavam um pouco.

 HSE: Qual foi a reação dos teus familiares?

LA: A reação da família no início foi tranquila, depois que viram que o interesse era sério, gerou um pouco de preocupação, que passou no decorrer dos anos.

 HSE: Tu és um dinossauro do rock gaúcho, um dos grandes nomes sem dúvida nenhuma, como: Flávio Basso, Nei Van Sória, Wander Wilder, dentre outros. Como tu enxergas isso?

LA: Eu acho meio pesado essa história de dinossauro (risos). Tenho 23 anos de carreira. Já fiz bastante música como músico, compositor e produtor, mas acho que tenho muito pela frente. Mais uns 20 anos de serviços prestados e aí tudo bem dizer que eu sou um rocker jurássico. ; )

 HSE:  Como tu visualizas o rock gaúcho? Digo, na tua opinião, como caracterizarias o rock gaúcho dos anos 80 e 90? Tem alguma diferença grande para o rock desenvolvido no eixo Rio – SP naquela época?

LA: O processo todo continua em constante evolução e profissionalização. Com o passar do tempo o rock veio conquistando seu espaço, até se firmar de vez e ser respeitado. Nos anos 80 tínhamos uma série de dificuldades, como conseguir bons instrumentos, gravar com um mínimo de qualidade, mas com muito menos bandas/artistas competindo por espaço. Tínhamos que ligar o rádio, sair de casa e ver se os caras eram bons ao vivo. Não existiam os truques do mundo digital na hora de gravar. Hoje em dia basta ½ dúzia de clics na web para conferir um artista. Também temos uma enxurrada de bandas e de informação, que cada vez mais necessita ser filtrada.

O Rock do RS sempre teve e continua tendo o seu sotaque, muito diferente de paulistas, cariocas, mineiros, etc. Acho que a grande diferença é que as bandas do eixo estavam no lugar onde havia dinheiro, gravadoras, programas de TV, que fez com que tudo andasse noutro ritmo para eles. Já cantava Humberto Gessinger: “Estamos longe demais das capitais”.

 HSE: Tu fizeste parte de uma das maiores bandas de rock gaúcho/brasileiro que influenciam até hoje diversas bandas e jovens. Como tu percebes a importância dos Cascavelletes para o rock no cenário nacional e gaúcho?

LA: Quem curtia Beatles, Stones, e a linguagem Rock’n’Roll 60’s ou 70’s de um modo geral e procurava o que estava sendo feito nesse gênero na época aqui, em algum momento iria esbarrar com TNT, Garotos da Rua ou Cascavelletes, as bandas que mais bebiam nessas fontes. Todos com seus hits tocando nas rádios gaúchas.

O interesse que existia nos anos 80 por um garoto que estivesse começando a tocar e quisesse aprender essas músicas ainda existe hoje, já que em todo local continuam pipocando bandas buscando algo daquela sonoridade, citando TNT e Cascavelletes como influência. Em termos nacionais, os Casca tiveram o seu momento de mídia, música em novela da Globo, mas infelizmente a coisa toda não foi conduzida da maneira mais madura e acabou não vingando, fazendo com que a banda mantivesse o status de Cult, correndo por fora do maistream.

 HSE: Falando em Os Cascavelletes é quase impossível não se falar em TNT. Qual era a real relação entre a TNT e a Cascavelletes?

LA: As duas bandas vem do mesmo lugar, as mesmas pessoas, e na minha opinião tem como figura central um cara chamado Flávio Basso. Com ele estavam Nei Soria, Frank Jorge, Charles Master, Tchê Gomes e Marcio Petracco, que já eram parceiros de escola ou de rua desde a adolescência. Então, a história das bandas se mistura.

O Petracco conta que chegou a tocar baixo no TNT. Tchê chegou a ser convidado a tocar nos Casca.  Durante uma época, depois da fusão do TNT que acabou gerando os Casca, talvez existisse certa rivalidade, até pra tentar emular uma coisa Beatles/Stones, mas acho que era mais pra fazer charme mesmo.

 HSE: Sentes saudades daquela época? Do que sentes saudades?

LA: Me orgulho muito do que foi assimilado, experimentado e plantado no passado, mas não sinto saudades. Prefiro a maturidade dos dias de hoje.

 HSE: Compunhas, ou se abnega dessa parte?

LA: Componho desde a adolescência. Nos Cascavelletes era impossível furar o bloqueio hierárquico do Basso/Soria. Assino junto com eles “Sob Um Céu de Blues”, onde dei pitacos na harmonia e estrutura.

“A Chave”, do meu cd solo de 2002, e “Hoje o mundo é meu”, parceria com Paulo James e gravada pelos Acústicos e Valvulados em 2005, são melodias que fiz na época dos Casca.

 HSE: Qual foi o maior show da tua carreira?

LA: Em termos de público, acredito que as aparições como músico de apoio com os Papas da Língua em várias edições do Planeta Atlântida (gravei o DVD acústico em 2004). Em termos de emoção, cito um show solo em 2003 no Sgt. Peppers (POA) com o bar completamente lotado.

 HSE: Como surgiu o projeto da Tenente Cascavel?

LA: A ideia original é de 1999, quando convidei quase todos os ex-integrantes das duas bandas que estavam morando em POA. Depois de duas tentativas frustradas de ensaio, o projeto não vingou. Só fomos conseguir retomar a ideia em 2008, com uma formação mais reduzida.

HSE: Como tu vês o cenário musical, o rock brasileiro e gaúcho do séc. XXI?

LA: Existe muita informação, muita oferta e consequentemente, muita coisa mal feita. Isso há de ser filtrado.

 HSE: De que maneira tu vês ecletismo musical de hoje?

LA: Não acho que a juventude de hoje seja mais eclética (ou menos preconceituosa). Na década de 80 eu e muitos amigos consumíamos (e estudávamos) Beatles, Kiss, Queen, Iron Maiden, The Cure, Rock Gaúcho, Rock Nacional, um pouco de música clássica, um pouco de jazz, MPB. Eu sabia tocar os riffs do Led e as harmonias do Djavan. Se a informação me agradasse, eu acabava correndo atrás.

HSE: Quais bandas de rock brasileiro tu vês com bons olhos (que tenham qualidade)? E gaúchas?

LA: Os artistas gaúchos mais “novos” que mais me agradam e que tento acompanhar a carreira são: Pata de Elefante, Vera Loca e Funkalister. Dos trabalhos que estou envolvido hoje em dia cito os excelentes cds de estreia da Sinuca de Bico e do Gustavo Telles & os Escolhidos.

HSE: Qual é a tua ideia de rock para o futuro? O rock que tu fizestes parte, e que conheces: aquele rock de qualidade, com letras e melodias que se casam e que tocam as pessoas de uma maneira que somente o true rock consegue, acabará e ficará cada vez mais comercial?

LA: Não tenho bola de cristal pra dizer o que vai acontecer… Acho que sempre vão ter artistas que seguram velhas bandeiras, mantendo acesa a velha chama do Rock e outros que tentarão criar novas receitas. Não tenho nada contra ser comercial. Os Beatles seguem nas listagens dos mais vendidos, então são bem “comerciais” ainda. Acho isso ótimo!

HSE: Deixe um recado pra galera que esta lendo esse papo, pra galera que curte o nosso e bom rock ‘n’ roll e que pensa, quem sabe, em montar uma banda e tudo mais. Qual é o teu conselho?

LA: O meu conselho é estudar música, ouvir música boa, fazer música com emoção,  saber ouvir a opinião dos outros e dialogar, ser honesto e não sacanear ninguém, saber se valorizar e dar crédito as pessoas que te ajudam no teu trabalho, estejam elas trabalhando de graça ou sendo remuneradas.

  

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